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Hidrocefalia

O cérebro possui no seu interior 4 cavidades denominadas ventrículos, que são preenchidos por líquido céfalo-raquideano ou liquor. É um líquido semelhante em aspecto à água, embora tenha propriedades bioquímicas diferentes. O liquor também preenche o espaço entre o cérebro e o crânio, tendo uma função amortecedora de impactos. No adulto normal existe um volume estimado de 14 a 170 ml, sendo produzido (pelo plexo coroide) e reabsorvido (vilosidades aracnoides) constantemente durante o dia. Estima-se que por dia sejam produzidos de 430 a 500 ml de liquor por dia, a uma taxa de 20 ml por hora, sendo totalmente renovado em 6 a 7 h (3 vezes ao dia). 

A hidrocefalia consiste num aumento anormal da quantidade de liquor no cérebro, ou por déficit de absorção (hidrocefalias comunicantes ou não obstrutivas), ou por obstrução ao caminho natural do liquor do seu ponto de produção ao seu ponto de absorção (hidrocefalias obstrutivas ou não comunicantes). As hidrocefalias podem acometer tanto crianças quanto adultos, porém seus mecanismos são em geral diferentes. Nas crianças as causas mais frequentes são congênitas (com ou sem mielomenigocele) e  hemorragia perinatal. Nos adultos as causas podem ser infecciosas (pós meningite), pós hemorrágica (aneurismas cerebrais), secundária a tumores por obstrução direta (por exemplo nos cistos colóides) ou por aumento do conteúdo proteico no liquor (como no caso dos schwanomas vestibulares).

No idoso, existe uma forma particular de hidrocefalia que é chamada Hidrocefalia de pressão normal ou HPN. Neste caso existe um aumento do tamanho dos ventrículos desproporcional ao que se esperaria para a idade. As consequências disso são alterações da marcha (apraxia de marcha), alterações urinárias e mais tardiamente, alterações cognitivas ou de memória. O paciente deverá ser bem avaliado clinicamente e uma possibilidade para a predição do resultado do tratamento cirúrgico é a realização do TAP test. 

O TAP test consiste em realizar a punção liquórica com retirada de grande volume de liquor e observar se existe melhora (principalmente na marcha). Caso haja melhora expressiva, o paciente pode ser um bom candidato ao tratamento cirúrgico.

Tratamento cirúrgico: O tratamento cirúrgico das hidrocefalias depende da sua causa (por exemplo nos casos onde existe obstrução, o tratamento deve ser voltado à retirada do fator que obstrui, como tumores). Nos casos em que a remoção da causa não é possível, como nas hidrocefalias comunicantes e HPN, é possível realizar a cirurgia de Derivação Ventricular. Este tratamento consiste em posicionar um cateter dentro do ventrículo aumentado e conectá-lo a outro local que possa absorver o liquor de forma satisfatória. Em geral o local escolhido é o abdome (Derivação Ventrículo Peritoneal-DVP), mas no caso de haver algum fator que o impeça, outros lugares como a veia jugular e o átrio do coração também podem ser utilizados (Derivação Ventrículo Jugular e Derivação Ventrículo Atrial).

A quantidade de liquido que vai ser drenado da cabeça é regulada pela presença de uma válvula, que abre a partir de uma determinada pressão. Existem válvulas de pressão fixa e de pressão regulável no mercado, que podem ser ajustadas às necessidade do paciente. 

Alguns tipo de hidrocefalia também podem ser tratadas por meio de neuroendoscopia, realizando procedimentos como a terceiro-ventriculostomia, que realiza uma comunicação entre os ventrículos e o espaço subaracnoide. Esta é uma possível alternativa em determinadas condições. 

Dr. Eduardo Alho, médico neurociurgião

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